Quando tinha uns 17 anos, desisti de tocar teclado (instrumento que despertou meu interesse pela música) porque era relativamente caro, principalmente pra quem ainda não tinha seu próprio dinheiro. Desistência? Na verdade uma troca. Minha amiga Raquel emprestou seu violão, na época e foi muito interessante. Apesar de canhoto, na primeira noite eu já aprendi a tocar uma canção de uma das bandas de rock mais importantes da cena nacional.
- É de Brasília.
- Tinha um poeta fã de Clarice Lispector como letrista e vocalista.
- As músicas dessa banda fazem sucesso em rodas de violão.
- O nome da banda começa com L.
A música “Que país é este?”, hit político dos anos 80, serviu como porta de entrada pro mundo da música e das mensagens musicadas também. Afinal, além da simpática melodia muito simples, de notável semelhança com “I don’t care” dos Ramones, não tem como passar despercebido o trecho:
“Terceiro mundo, se for.
Piada no exterior.”
Até hoje me encanta o verso e me enoja o sistema. Pensei na época algo como: “Isso faz muito sentido, ele tinha razão!”. Infelizmente o Renato foi embora faz um tempo e não é que a coisa está no mesmo pé? Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro do Pré-Sal. Que país é este?
Profissionais responsáveis pela nossa segurança, o Corpo de Bombeiros Militar do estado do Rio de Janeiro vêm travando há dias uma luta épica. Iniciaram (sozinhos) uma mobilização em que exigem condições de trabalho e salário digno, proporcional ao heroísmo que nos oferecem todos os dias, a cada momento desagradável (ninguém chama os bombeiros quando a fumaça é cheirosa e oriunda de um churrasco suculento). Como paga ao movimento, tivemos entre os manifestantes praticamente meio milhar de presos. Presos como VÂNDALOS, segundo as autoridades locais, porque invadiram o QC da instituição. Um erro não justifica o outro, dizem. Pra mim depende. Nesse caso, por exemplo, a coisa só atingiu tamanha gravidade porque como de costume, há alguns séculos, a massa pede, rasteja, implora melhorias na educação, saúde e segurança, sempre na base do amor. E “eles” sempre fingindo que não ouvem. Você pergunta ‘Professores’ e eles respondem ‘Copa do Mundo’. Reclama ‘falta de remédios’ e ganha ‘Olimpíadas’. Sempre oferecendo escambo pros meus colegas de tribo. E infelizmente há quem aceite. Só me resta no meio de tamanho auê, querer saber: Os verdadeiros vândalos e os criminosos conhecidos de longa data estão presos? Não, sério. Pense pra responder. Mano, Que país é este?
Há um clamor público: “Pobres de nós nessa hora. Ao invés de paralisar, os bombeiros deveriam voltar a trabalhar e aceitar seus salários de fome, salvando vidas! É pra isso que são [mal] pagos! É a população quem pena com tal conduta”! Acorda, tribo! Como se antes da manifestação estivesse uma beleza. Tendo BBB, Brasileirão e Sexo na TV, fica tudo numa boa?! Talvez até estivesse numa boa, se todos nós pudéssemos curtir a mesma coisa com nossos salários. Mas essa não é a realidade. A população não paga por causa de nossos heróis, que atendem nossos pedidos de socorro ( às vezes falsos [trotes] ou absolutamente desnecessários, como um gato no Shopping Center) e defenderão sempre que for preciso. Pagamos por causa de você-sabe-quem que se faz de surdo diante de nossos pedidos de socorro. Que país é este?
Podemos ser úteis de novo como povo, como foi na época que escreveram canções como a primeira que aprendi. Somos tão jovens, temos todo o tempo do mundo. Há informação a nosso dispor e internet na palma da mão. Um simples abaixo assinado virtual ou físico é EXTREMAMENTE útil e funcional pra quem já acha que já deu de ser zoado. Longe demais de um partido político, só falo como pessoa física que paga impostos ( altíssimos) a cada compra de produtos originais e que não enxerga o retorno. Passagem cara, comida cara, tudo caro e quando mais preciso de Saúde, Segurança ou Educação, sempre falta uma coisinha... Sorte que temos profissionais MILAGREIROS e que ainda amam suas profissões. Não sei você, mas eu não agüento mais! O brado está mais forte agora. Começou pelos bombeiros, professores e ganha força. Nós merecemos o melhor, poxa. Somos bons, o planeta nos admira. Eu quero ser bem tratado. Afinal de contas, que país é este?